Arqueólogos de Coimbra usam 3D para preservar artefactos no Curdistão

sábado, 26 de dezembro de 2015

Arqueólogos da Universidade de Coimbra recorrem à digitalização 3D para preservar os artefactos que encontram no Curdistão Iraquiano, um objetivo traçado desde o início do projeto, mas que é reforçado com os ataques ao património registados na região.


No final de agosto, membros do autoproclamado Estado Islâmico (EI) destruíram o Templo de Bel, da cidade síria de Palmira, classificada como Património Mundial. Também no Iraque, contabilizam-se vários ataques a património cultural por parte do EI, como é o caso das ruínas de Hatra ou Nimrud.


A cerca de 250 quilómetros do feudo do EI no Iraque, Mossul, jovens arqueólogos da Universidade de Coimbra, em parceria com a Universidade de Pensilvânia, iniciaram em 2012 uma prospeção no vale de Biazan, explorando o sítio arqueológico de Kani Shaie desde 2013.
Desde o início tinham a ideia de trabalhar a digitalização dos artefactos, sublinha o codiretor do projeto, André Tomé, frisando que "a arqueologia, como uma ciência do humano, deve contar histórias".
A destruição de património veio reforçar a necessidade de digitalizar tudo o que se encontra naquele sítio.
"Acreditamos que ainda é mais importante neste momento e daqui para a frente. Creio que se cometeram muitos erros na forma como se foi defendendo o património ao longo dos últimos anos, com uma atenção muito diminuta dada à preservação e à montagem de estratégias que depois evitassem destruições e perdas tão grandes ao nível patrimonial", aponta.
No Centro de Estudos de Arqueologia, Artes e Ciências do Património, a tecnologia surge como suporte para garantir que a memória possa persistir. Impressora 3D, digitalizador, máquina fotográfica ou um drone passaram a ser ferramentas destes arqueólogos.
Martino Correia, investigador no centro especializado em modelação 3D, recorre a "software" de jogos de computador para construir visitas virtuais ao sítio arqueológico. Através de um computador normal, ou com recurso a óculos de realidade virtual, qualquer pessoa vai poder simular a experiência de estar no sítio da expedição ou visitar as várias fases da escavação.
"Em princípio, no final do ano ou início de 2016" já será possível ver alguns dos conteúdos, que depois serão atualizados ao ritmo das descobertas, explica.
Para além de um museu virtual, o grande objetivo é encontrar "novos paradigmas" que se afastem da dita exposição tradicional, salienta o codiretor do projeto Ricardo Cabral.
Através de óculos de realidade virtual, o público poderá "visualizar os artefactos nos contextos onde foram escavados", assim como experienciar o sítio "como ele é hoje e como seria no passado", podendo, no futuro, recriar "diferentes paisagens que estarão balizadas cronologicamente", conta o investigador.
Até agora, os arqueólogos já registaram "descobertas algo surpreendentes", sublinha André Tomé, apontando para uma "tabuinha" com uma marca numérica, da segunda metade do quarto milénio antes de Cristo (a.C.), que testemunha "que esta região também fazia parte daquilo que se considerava exclusivo das grandes cidades".
Apesar da vontade de fazer do sítio arqueológico de Kani Shaie um projeto de longo prazo, o financiamento tem sido "uma luta anual", afirma Ricardo Cabral, recordando que a campanha, que já foi referida na revista norte-americana Science, não contou com qualquer financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia em 2015.

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