A guerra parece ter poupado tesouros arqueológicos da Líbia

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Os arqueólogos líbios começaram a inspecionar os tesouros arqueológicos do país - alguns deles bem perto de locais marcados por combates entre os rebeldes e as tropas do coronel Kadhafi.

"É a primeira vez que pude retornar a este sítio arqueológico desde o fim dos conflitos. As tropas de Kadhafi estavam bem ali e não sei bem o que aconteceu", comentou Fadel Ali Mohammed, 62 anos, que acaba de ser nomeado ministro das Antiguidades do novo governo líbio. Ele falou diretamente de Sabratha, um desses locais mais famosos, a oeste de Trípoli.

Apesar dos inúmeros postos de controle levantados no caminho por jovens milicianos, gasta-se menos de 90 minutos para seguir da capital a esta localidade, e este professor de arqueologia e de filolofia grega não esconde a preocupação.

Na medida em que o carro se aproxima de Sabratha, no entanto, os primeiros sinais não são desencorajantes.

Um conjunto residencial na entrada do sítio, incluído no patrimônio mundial pela Unesco, foi alvo de tiros de artilharia. Depois, pouco a pouco, começam a aparecer colunas coríntias e, em seguida, a cúpula do famoso teatro antigo, construído entre o segundo e o terceiro séculos d.C.; perto, colunatas destacam-se bem junto ao litoral, numa paisagem que tem como fundo um mar muito azul.

Uma equipe de segurança permaneceu no local durante os combates e as primeiras informações não são más. Apenas os combates com armas leves chegaram perto das ruínas.

Fadel Ali Mohammed, que passou um ano nos cárceres de Kadhafi há cerca de 40 anos, fugindo, depois, para a Grécia, percorreu a parte ocidental do teatro descobrindo três impactos de bala que poderão ser facilmente reparados.

As primeiras informações dizem respeito a outros sítios famosos como Leptis Magna e Cyrene, também positivas. Com três dos cinco sítios inscritos no Patrimônio da Humanidade preservados dos combates, as novas autoridades líbias esperam poder usá-las como atração para o desenvolvimento do turismo, como acontece no Egito e na Tunísia vizinhos.

"Era muito difícil para os turistas vir durante o regime de Kadhafi", recordou-se Hadi Mafuz, um funcionário da agência de turismo de Sabratha. "Se Kadhafi tivesse um problema com um país europeu, ele congelava os vistos para todos os cidadãos de lá. Se um de seus filhos hospedava-se num hotel, todas as outras reservas eram canceladas", lembrou ele.

Se estes sítios foram poupados, o fato deve-se, principalmente, à dedicação de seus guardiães. Por exemplo, Ibrahim Hamad Saleh El-Zintani, 46 anos, ficou dia e noite durante 13 dias, por ocasião do Ramadã, o mês de jejum muçulmanos, no "Castelo Vermelho" de Trípoli para defendê-lo das pilhagens. Ergueu barricadas feitas de andaimes e rochas contra as portas, construídas pelos romanos e usadas, depois, pelos Cavaleiros de Malta.

"Tivemos muitos problemas com pessoas que tentavam entrar no museu para roubar peças, mas conseguimos impedi-las", afirmou ele.

"Jovens da cidade me ajudaram. Trouxeram água para mim, além de tâmaras e sopa quente", contou este pai de seis filhos. Um vizinho levou dinheiro para sua família para que ela pudesse participar das comemorações do Ramadã.

Antes mesmo da queda do regime de Kadhafi, as mais belas peças do museu foram escondidas atrás de uma falsa parede, numa das alas da construção, na esperança de enganar saqueadores eventuais.

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