Seres humanos inflacionados

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Se você estivesse fazendo uma pesquisa na biblioteca de sua universidade e encontrasse ali um jornal da época do presidente Juscelino Kubitschek, dizendo que a moeda brasileira corrente era o real, qual seria a sua reação? Evidentemente, seria de descrédito total, já que todos sabemos que a moeda naquela época era o cruzeiro.

São muitos os críticos da Bíblia em nossos dias. As razões usadas por eles para negar o relato bíblico vão desde a incapacidade de existirem eventos sobrenaturais até as supostas contradições cronológicas. Um dos argumentos mais comuns é a afirmação de que o ambiente histórico da narrativa bíblica é diferente do ambiente reconstruído pela Arqueologia. Será isso verdade?

Vejamos, por exemplo, o valor dos escravos na região do Antigo Oriente Próximo. Durante o período do Império Acádio (c. 2370-2190 a.C.), o preço de um servo ficava entre 10 a 15 siclos. Já no segundo milênio a.C., no período da antiga Babilônia (c. 1800-1700 a.C.), o valor era de 20 siclos, de acordo com o Código do rei Hamurabi e as leis da antiga cidade de Mari. As inscrições encontradas nas escavações nas cidades de Nuzi e Ugarit revelaram que por volta do XIV e XIII século a.C., a escravidão sofreu uma “inflação”, seu custo subiu para 30 ciclos. Quinhentos anos depois, no período assírio, era em torno 50 a 60 ciclos e, por fim, no período persa (IV e V séc. a.C.), algo em torno de 90 a 120 ciclos.

Quando comparamos esses valores com as informações bíblicas disponíveis, vemos um sincronismo surpreendente. Quando José foi vendido pelos irmãos, eles receberam 20 ciclos de prata (cf. Gên. 37:28), o mesmo preço do Antigo Oriente Próximo no XVIII século a.C. Na porção que descreve a aliança de Deus com Israel, uma das leis envolve o valor de um escravo, que era de 30 ciclos de prata (cf. Êxo. 21:32), refletindo assim a tradição do XIV e XIII século a.C. Finalmente, quando Menahem, rei de Israel, pagou tributo ao rei assírio Tiglate Pileser (o Pul bíblico), considerou cada israelita no valor de 50 ciclos de prata (cf. II Reis 15:20), o valor da época.

Se os personagens do Antigo Testamento foram inventados na época em que os judeus estavam em Babilônia ou no período persa, porque então o preço de José não era 90 ciclos? E por que o preço no êxodo não era o da época persa? Ao invés de tentar explicar, é mais fácil aceitar que a tradição bíblica reflete de forma precisa o ambiente histórico da época que ela narra.

Fontes:
Kenneth Kitchen. The Patriarcal Age: Myth or history? (BAR, Março-Abril. 1995, pág. 52.)
Roland De Vaux. Instituições de Israel no Antigo Testamento, págs. 109 e 110.

Luiz Gustavo de Assis é formado em Teologia e é capelão do Colégio Adventista de Esteio, RS

1 comentários:

Anônimo disse...

Post muito útil e oportuno.
Parabéns ao autor e ao dono do blog
Diogo Cavalcanti